Destaques

Transição energética e as alternativas para avançar na descarbonização

31 de julho de 2024 Transição energética e as alternativas para avançar na descarbonização

A transição energética é um tema crucial nas discussões globais e continuará sendo central nos próximos anos. Esse conceito envolve mudanças estruturais nas matrizes energéticas dos países, substituindo combustíveis fósseis ou emissores e não renováveis, como petróleo, carvão mineral ou natural, gás natural e energia nuclear, por fontes renováveis e não emissoras, como eólica, solar, hidráulica e biomassa (a cana-de-açúcar, por exemplo, é a fonte de biomassa mais utilizada no Brasil, mas também têm destaque elementos como a casca do arroz, castanhas diversas, capim, restos vegetais e madeira).

Nesse contexto, entre as alternativas mais discutidas estão o uso de hidrogênio renovável ou de zero carbono (especialmente o hidrogênio verde) em diversos setores industriais como aviação, siderurgia, transportes terrestres e marítimos, entre outros, e o uso de grandes baterias e sistemas associados para armazenamento de energia e projetos híbridos.

Na Ibitu, nós fazemos parte dessa transformação, já que geramos energia 100% renovável. Ainda assim, não ignoramos o quanto estamos vulneráveis, por conta da própria renovabilidade e dos eventos climáticos extremos. Por isso, é importante entender como a transição energética tem sido feita no mundo e a contribuição das novas tecnologias nesse cenário.

Para responder a essas e outras questões, Roberto Lopes, nosso Gerente de Desenvolvimento de Projetos, elaborou o artigo a seguir, que aborda mais sobre essa temática tão essencial para o futuro do nosso planeta!

Transição energética e alterações climáticas

Nos últimos 100 anos, a temperatura da Terra aumentou cerca de 0,5°C e, até o fim deste século, pode subir até 4°C, segundo especialistas. Esse aumento é atribuído à grande quantidade de gases de efeito estufa (GEE) emitidos por atividades humanas, especialmente pela queima de combustíveis fósseis e utilização de fontes emissoras.

Uma das consequências mais graves desse aquecimento é o aumento de eventos climáticos extremos (enchentes, secas e tempestades), como os que devastaram o Rio Grande do Sul em 2024. As enchentes e os deslizamentos de terra no estado, que resultaram em perdas humanas e materiais significativas, foram agravados por chuvas intensas e frequentes, amplificadas pelas mudanças climáticas. A região Sul do Brasil, por suas características geográficas, é um ponto de encontro de ar quente e frio, onde o fenômeno do El Niño e as mudanças climáticas intensificam as chuvas.

Para evitar futuros desastres – não apenas nessa região, mas em todo o mundo –, cientistas alertam que é crucial reduzir as emissões de GEE, principais causadores do aquecimento global.  Organizações globais estão firmando acordos para reduzir emissões e proteger o meio ambiente, como o Acordo de Paris, que visa limitar o aquecimento global, e a RE100, uma iniciativa de mais de 400 empresas comprometidas com o uso de 100% de eletricidade renovável e a aceleração para a zero emissão de carbono. Nesse contexto, é essencial (e urgente) falar sobre transição energética.

O papel do Brasil na transição energética

No Brasil, o setor energético não é o principal responsável pelas emissões de gases de efeito estufa, pois nossa matriz elétrica possui uma participação maior de energias renováveis e de zero carbono em comparação às matrizes globais. Para manter essa alta renovabilidade, as fontes eólica e solar têm aumentado sua contribuição na geração elétrica do país. Contudo, devido à variação na disponibilidade de vento e sol, a eletricidade gerada por essas fontes também varia.

Assim, as termelétricas ainda são essenciais para garantir a estabilidade do sistema elétrico, pela capacidade de serem acionadas de forma imediata. O gás natural, embora seja um combustível fóssil, emite menos GEE que o óleo e o carvão, tornando-se um combustível de transição energética. Então, é possível afirmar que, com a expansão do uso de biometano e hidrogênio verde, o gás natural poderá ser substituído por esses combustíveis renováveis, criando uma trajetória progressiva de sustentabilidade ao longo do tempo.

Como o Brasil, felizmente, é privilegiado em termos de recursos naturais, o país tem se destacado na transição para uma matriz energética mais limpa, com um rápido crescimento de fontes renováveis. A energia solar, por exemplo, era praticamente inexistente na matriz elétrica nacional há alguns anos. Em 2016, sua participação era de apenas 0,01%, segundo o Balanço Energético Nacional de 2017.

De lá para cá, houve grandes avanços. De acordo com o Sistema de Informações de Geração da Aneel (SIGA), em 20 de março, a capacidade de geração das usinas fotovoltaicas na matriz elétrica brasileira já era de 4,32%. A Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) informou que, incluindo sistemas de micro e minigeração distribuída, a energia solar alcançou 12% da matriz elétrica brasileira em março.

Quando falamos na matriz elétrica brasileira como um todo, vemos também que ela expandiu 2,6 GW de potência instalada no primeiro trimestre de 2024, segundo a ANEEL. Nesse período, foram registradas 105 novas usinas no país, e a previsão é que a geração de energia elétrica cresça 10,1 GW até o fim do ano. Dos 200 GW de potência centralizada do Brasil, 84,25% provêm de fontes renováveis, sendo as principais: hídrica (55%), eólica (14,8%) e biomassa (8,4%). Em 2024, a ANEEL já liberou mais de 2GW de projetos de energia renovável para operação comercial.

Outras opções de energia renovável

Com a crescente necessidade de soluções energéticas sustentáveis, diversas opções inovadoras têm surgido no mercado, ampliando o leque de alternativas além das tradicionais fontes renováveis. Entre essas inovações, destacam-se o hidrogênio verde e as tecnologias Power-to-X (PtX), além da energia eólica offshore, cada uma com características e benefícios únicos que contribuem significativamente para a redução das emissões de gases de efeito estufa e a promoção de um futuro mais sustentável.

O hidrogênio verde é produzido com eletricidade de fontes limpas e renováveis (solar, eólica, biomassa), podendo assumir um papel integrador entre a geração de energia elétrica e outras aplicações.

As tecnologias Power-to-X são cada vez mais utilizadas no mundo, impulsionadas por acordos de redução de emissões e a busca por um novo mercado de energia sustentável. Entre os exemplos, estão a Power-to-Heat (PtH), para aquecer residências e indústrias; Power-to-Gas (PtG), que gera combustíveis para veículos e indústrias; Power-to-Mobility (PtM), que carrega baterias para veículos elétricos; Power-to-Chemicals (PtC), que converte energia renovável em produtos do setor químico, doméstico e industrial (como amônia, ureia e fertilizantes em geral); e Power-to-Fuel (PtF), que produz combustíveis sintéticos para veículos a combustão, caminhões e navios com baixo carbono, além do SAF (Combustível Sustentável de Aviação), que permite redução de até 90% de emissão de CO2 quando comparado à querosene tradicional da aviação.

O hidrogênio verde e as tecnologias PtX são considerados essenciais para o processo de transição energética, e por isso acredita-se que, até 2050, o H2V substituirá o petróleo e o gás natural como principal recurso energético.

Já a energia eólica offshore é obtida pela força do vento em alto-mar, que permite uma produção maior quando comparada a parques onshore (que são os parques eólicos em terra). Nas offshores, o vento é mais intenso e os impactos visuais e acústicos são baixos. Os componentes de instalação são transportados mais facilmente no mar, e os aerogeradores, atualmente, possuem potências unitárias maiores do que 10 MW. Tudo isso faz com que a capacidade instalada seja muito superior, chegando a centenas de megawatts. Hoje, o Brasil possui em desenvolvimento, na sua costa marítima e em licenciamento ambiental no IBAMA, aproximadamente 234 GW de energia eólica offshore para instalação nos próximos anos.

3Ds: digitalização, descentralização e descarbonização

No setor de energia, as tendências futuras envolvem novas formas de geração e consumo de energias renováveis, como a digitalização dos meios de transmissão, automação e gerenciamento de indústrias, comércios e residências, e novas tecnologias de geração e armazenamento de energia descentralizadas. Essa inovação é sintetizada nos 3Ds: digitalização, descentralização e descarbonização.

A digitalização busca melhorar as redes de transmissão e distribuição de eletricidade; a descarbonização é focada na redução dos impactos da poluição causada por combustíveis fósseis, por meio da geração e do consumo de energias renováveis; e a descentralização busca tornar a geração distribuída mais acessível, com preços competitivos para tecnologias solares e de armazenamento.

Uma tecnologia essencial quando falamos em transição energética são os Sistemas de Armazenamento de Energia com Baterias, ou BESS (Battery Energy Storage System), que são baterias recarregáveis para armazenar energia de diferentes fontes e descarregá-la quando necessário. Com isso, é possível equilibrar a rede elétrica e evitar sobrecargas, permitir a geração e a utilização de energia em locais remotos, fornecer energia reserva ou adicional quando necessário, entre diversos outros benefícios para geração e distribuição.

Nosso papel na caminhada para zero emissões

Como uma empresa geradora e comercializadora de energia com um portfólio focado em fontes renováveis, nós contribuímos diretamente para a transição energética. A diversidade de nossos ativos eólicos e fotovoltaicos proporciona um perfil de geração complementar, permitindo a redução de mais de um milhão de toneladas de CO2 emitidas anualmente. Além disso, temos um pipeline de 1,2 GW de projetos em desenvolvimento e estamos atentos às oportunidades futuras, pois essa missão é central para nós.

É importante destacar que a transição energética vai além da geração e do consumo de energia renovável. O conceito abrange também a gestão de resíduos, eficiência energética, digitalização de processos, entre outros aspectos, promovendo sustentabilidade energética, econômica e social. Na Ibitu, esse objetivo é o núcleo de todas as nossas atividades, reforçando a posição do Brasil na busca por zero emissões de carbono, desenvolvendo as regiões onde atuamos e contribuindo para proteger o futuro das próximas gerações.

Roberto Lopes

Gerente de Desenvolvimento de Projetos

Compartilhe