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Bastidores das alturas: a rotina em nosso complexo eólico

20 de outubro de 2023 Bastidores das alturas: a rotina em nosso complexo eólico

As usinas de energia eólica dão um show à parte quando o assunto é beleza, com seus enormes aerogeradores em meio a paisagens tão incríveis. Mas, ainda mais fascinante é o trabalho das pessoas que atuam diretamente na operação e manutenção dessas máquinas.

É o caso do Jerfesson Santos, mantenedor do Complexo Eólico de Caldeirão Grande 1, no Piauí. O colaborador, que em 2023 completou 2 anos de casa, trabalhou antes por muitos anos em outra área, até o dia em que pôs os pés em uma empresa de energia eólica pela primeira vez, conheceu de perto uma usina e tomou a decisão: “É aqui que eu quero seguir carreira”.

Confira o relato completo dele sobre como funciona a rotina de manutenção em uma usina eólica, e o que o desperta para subir a quase 90 metros de altura e fazer a energia acontecer.

Por dentro de Caldeirão Grande 1

Antes de falar mais detalhes sobre a minha atividade em si, vou apresentar um pouco da dimensão do local onde eu trabalho, o Complexo Eólico de Caldeirão Grande 1.

A área conta com 70 aerogeradores, cada um medindo 89 metros de altura e com capacidade de 2,7 megawatts (MW), totalizando 189 MW. São distribuídos em 4 subestações, somando uma área de mais de 100 quilômetros de redes de média e alta tensão. E o Complexo é conectado com a subestação de Curral Novo, que é onde se faz o escoamento da energia que geramos e que é entregue no Sistema Interligado Nacional (SIN).

Segurança em primeiro lugar

Fazer a manutenção de um empreendimento desse porte e nessa altura exige a realização de uma série de treinamentos, muita responsabilidade e comprometimento de uma boa equipe – e posso dizer que a nossa é “fora da curva”. Tudo isso é importante porque essa é uma atividade complexa e que envolveria riscos caso não fossem cumpridas todas as etapas de segurança.

Da parte da Ibitu, isso é bem resguardado, já que é uma empresa que investe fortemente em medidas e no fortalecimento da cultura de segurança. Passamos por certificações que atendem a padrões internacionais e nos capacitam para atuar na área em qualquer lugar do mundo, como as da Global Wind Organization (GWO), entre eles o GWO/BST, que é um treinamento básico de Segurança, e o GWO/BTT, um treinamento técnico básico.

O curso da GWO é renovado a cada dois anos na Ibitu. Também passamos por treinamento da Norma Regulamentadora (NR+SEP) 10, que é para trabalhos com eletricidade, NR 33, que trata sobre espaço confinado, NR 35, que é específica para trabalho em altura, além de treinamentos de combate a incêndio, primeiros socorros, entre outros.

Dia a dia e principais manutenções previstas

Logo no começo do dia, seguimos um plano de atividades do complexo e fazemos o monitoramento de cada uma das máquinas que possam ter entrado em falhas durante a madrugada. Verificamos os aerogeradores, o sistema de escoamento (subestação e redes de média tensão e alta tensão), que faz a subtransmissão até o ponto de entrega, onde o sistema é interligado, e fazemos uma série de manutenções corretivas.
Em usinas eólicas, temos várias etapas de manutenção preventiva durante o ano:

  • Lubrificação em todas as partes das torres: essa é uma manutenção semi-anual em que é feita a limpeza de todas as partes mecânicas, como peças móveis (gearbox, gerador, pista yaw, yaw, hub, sistema de phit e outros componentes).
  • Manutenção de torque: no fim do ano, temos a manutenção anual, que engloba a parte de torque dessas máquinas, em que são conferidos todos os parafusos do equipamento. Além disso, também providenciamos uma outra lubrificação. Como é uma máquina que passa 24 horas em operação, requer uma atenção redobrada.
  • Inspeções das blades: essas são as pás das máquinas, ou hélices, como algumas pessoas chamam. Essa averiguação ocorre de forma interna e externa e, nos dois casos, uma das técnicas que é utilizada é a de drones, que sobrevoam pela torre e produzem diversas fotos, mapeando toda a máquina. Com as imagens externas, por exemplo, conseguimos identificar se há trincas, sinais de descargas atmosférica, pás danificadas, entre outros detalhes.

Após essas inspeções, é feito um plano de recuperação que contempla as manutenções corretivas, e para isso é solicitada uma empresa especializada em reparos de blades. Ela monta uma estrutura ao redor da máquina para realizarmos os reparos necessários.

Desafios da área

Entre os desafios específicos da nossa atividade, o primeiro deles, sem dúvida, é o de fazer as manutenções corretivas em um local tão alto e com grandes equipamentos.

Às vezes, temos que trocar um blade ou um gerador, por exemplo. Então precisamos desmontá-los lá de cima e fazer as desconexões de todos os componentes, como cabos e mangueira de óleo. Também precisamos garantir o bloqueio de todas as partes da máquina, para que ela não entre em movimento. E ainda costumamos mudar a posição dela contra o vento, para que não tenha nenhum empecilho.
É um trabalho que requer muito sincronismo entre todas as pessoas envolvidas, com uma comunicação que precisa ser constante, objetiva e coerente.

Preparativos para a escalada

Todas as torres possuem elevador para subirmos, que são preferencialmente utilizados. Mas, há situações em que precisamos subir pelas escadas, o que nos exige um bom preparo físico para encararmos quase 30 minutos de subida. Nos dois casos, recebemos treinamento específico sobre como subir e descer.

Antes de subirmos, sempre passamos por uma avaliação de saúde, como aferição da nossa pressão arterial. Jamais podemos subir se não estivermos dentro das condições necessárias.

Também vestimos rigorosamente todos os EPIs indicados, como cinto, talabarte, trava-queda, entre outros. E ainda são avaliadas as condições externas climáticas. O vento, por exemplo, não pode estar muito forte. Se estiver acima de 18 metros por segundo [ou 64 km/h], não escalamos a torre.

Bem-estar físico e emocional

Eu não tenho medo de altura, mas o que garante mesmo a minha confiança é me manter em segurança e estar sempre com as capacitações em dia.
É um trabalho que depende das nossas boas condições físicas e psicológicas, ou seja, precisamos praticar atividades físicas, nos alimentar de forma saudável, dormir bem e estar com a cabeça tranquila para executar cada tarefa.

Hoje, sou muito grato pela oportunidade que tive na Ibitu e por estar aqui. Trabalhar com energia eólica é a realização de um sonho, tenho enorme satisfação de atuar nesse trabalho. Realmente, o céu é o limite para mim.

Jerfesson Santos

Mantenedor do Complexo Eólico Caldeirão Grande 1

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