Destaques

Energia eólica como caminho para a restauração da terra

29 de agosto de 2024 Energia eólica como caminho para a restauração da terra

O que você sente ao ver nos noticiários, ou até mesmo perto de você, as consequências da degradação do meio ambiente no Brasil e no mundo? É difícil não se preocupar com o futuro; cada ação conta para evoluirmos na restauração do nosso planeta, e a geração de energia limpa e renovável, como a eólica, é uma das melhores alternativas que temos nesse sentido.

Para nós, um exemplo importante reforçou o quanto esse tipo de energia é relevante para trazer eficiência e sustentabilidade: por meio do monitoramento de fauna que é realizado no nosso complexo eólico Riachão, no Rio Grande do Norte, observamos como essa geração limpa pode estar atrelada à recuperação de áreas de ecossistemas.

Essa frente de atuação está alinhada aos pilares ESG (Ambiental, Social e Governança Corporativa) da Ibitu, de forma que a preservação e a regeneração da biodiversidade nos nossos complexos é um dos nossos temas materiais. Ele se conecta aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU (que são a base da nossa estratégia), em especial o ODS 15, que é sobre promover o uso sustentável dos ecossistemas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e a perda de biodiversidade.

A seguir, nossa Analista Ambiental, Jéssica Girão, apresenta detalhes sobre os dados relacionados à fauna em Riachão e como estamos avançando nesse tema. Confira o artigo dela!

Uma fonte de energia e de sustentabilidade

Faz parte das prioridades da ONU para a década (2021 a 2030) incentivar a restauração dos ecossistemas mundiais. No Dia Mundial do Meio Ambiente de 2024, a própria organização relembrou sobre a importância da recuperação do planeta e do combate à desertificação em seus diversos aspectos e biomas.

No contexto da Caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro (que, segundo dados do IBGE, ocupa cerca de 10,1% do território nacional), essa regeneração torna-se ainda mais relevante. Isso porque, infelizmente, somente 8,8% desse bioma é protegido em unidades de conservação.

Por outro lado, dentre as possibilidades energéticas no contexto brasileiro, a geração de energia eólica é uma das alternativas que busca conciliar o desenvolvimento sustentável e a eficiência energética. Nesse sentido, a operação desses empreendimentos pode se integrar com os objetivos traçados pela ONU, já que na própria concepção de operação pode ocorrer a regeneração de áreas, por meio da mudança de uso do solo, do plantio de espécies endêmicas e do repouso de terras degradadas e/ou em processo de desertificação, provenientes de desmatamento, queimadas e atividade agropastoril.

Monitoramentos no nosso complexo

Os dados de monitoramentos ambientais referentes ao período de 2014 a 2024, realizados no nosso complexo eólico Riachão, localizado na cidade de Ceará Mirim, no Rio Grande do Norte, mostram que houve evolução nas condições ambientais quando comparadas ao período anterior à implantação do empreendimento, pois houve o aumento da biodiversidade. A área vem sendo monitorada com mais profundidade, em seus aspectos biológicos, desde 2015 (ano do início de sua operação comercial), e algumas possibilidades para esse resultado estão relacionadas às ações realizadas pela Ibitu, bem como a atuação do Órgão Estadual do Meio Ambiente (OEMA), como a recuperação das reservas legais, a execução responsável do Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) e a regeneração natural de outras áreas, a partir do repouso da terra promovido pela estabilização da atividade de geração eólica.

O quantitativo de avifauna (um importante Indicador Ecológico que pressupõe a presença ou ausência de espécies, bem como o grau de sensibilidade quanto às interferências humanas), a  qualidade da fauna e a diversidade biológica – até mesmo com representantes pertencentes às listas vermelhas de espécies ameaçadas – são capazes de revelar o nível de preservação local, e com os dados a seguir é possível identificar uma crescente de registros de novas espécies; o que pode ter relação direta com a restauração local.

Energia eólica como fonte de restauração

A maioria das espécies deste comparativo foram registradas a partir de 2017, dois anos após a estabilização do parque eólico na área. A região apresenta um aumento gradativo de répteis, anfíbios, aves, mamíferos terrestres e alados.

Quando falamos em répteis e anfíbios (herpetofauna), atualmente há o registro de 47 espécies. A evolução até chegar a esse número foi expressiva e cumulativa:

Entre essas espécies, destaca-se o menor lagarto das Américas (Coleodactylus natalenses), endêmico da Mata Atlântica e exclusivo do Rio Grande do Norte. Desde 2022, ele foi encontrado no empreendimento, sugerindo a presença de uma população significativa. A espécie é classificada como “Em Perigo”, tanto na Lista Brasileira de Espécies Ameaçadas e como na Lista Vermelha da União Internacional pela Conservação da Natureza (IUCN).

Quanto à avifauna, há pelo menos 164 espécies de aves, com base nos dados compilados do Relatório Ambiental Simplificado (RAS) e dos monitoramentos de fauna ocorridos entre 2014 e 2024. Entre o período de 2017 a 2020, o total representava 16% da riqueza esperada para a Caatinga e, ao longo dos anos, esse índice subiu para 29% até 2024.

A síntese atual dos monitoramentos da área, para a avifauna, demonstra um índice de Shannon (H’) de H’=3.569. Esse índice mostra a taxa de diversidade de fauna na área, e esse valor indica que essa diversidade é alta, já que ele varia entre 1,5 e 3,5, e raramente ultrapassa o valor de 4,5.

O monitoramento revelou que muitas espécies são independentes de florestas, enquanto outras são semidependentes ou dependentes, como a ave que é conhecida popularmente como carriça-de-bico-longo (Cantorchilus longirostris); sua presença indica vegetação preservada na área.

Já no que diz respeito à mastofauna terrestre, ou seja, a fauna caracterizada pela diversidade de mamíferos, antes de 2015 houve o registro de apenas 7 espécies, o que representava 7,5% da riqueza esperada para a Caatinga. Esse percentual aumentou para 18% entre 2015 e 2024, totalizando 17 espécies da Caatinga existentes na área. Um destaque é o coelho do mato (Sylvilagus brasiliensis), “em perigo” pela IUCN, registrado no empreendimento desde 2017, exceto em 2020.

Com esses levantamentos de dados sobre a fauna, podemos ver que a biodiversidade está se recuperando bem ao longo dos anos de monitoramento em uma área que antes era usada para agricultura e estava bastante degradada. De forma alinhada aos objetivos da ONU para a década, o complexo de Riachão mostra a importância da energia eólica para as futuras gerações, combinando a produção de energia limpa com a recuperação de áreas e ecossistemas.

Jéssica Girão

Analista de Meio Ambiente

Compartilhe